Cravos vermelhos e vivas à liberdade nas celebrações concelhias do ’25 de abril’ na Vila de Prado!

O dia nasceu cinzento, mas rapidamente se pintou em tons de vermelho. Da cor dos cravos que populares e militares carregavam a 25 de abril de 1974, quando derrubaram o regime totalitário e ditatorial do Estado Novo e devolveram a liberdade aos portugueses. Uma liberdade que por vezes se toma como garantida, mas que foi conquistada graças aos sacrifícios de homens e mulheres que lutaram e resistiram ao longo de quase cinco décadas de ditadura. Os cravos vermelhos encheram de cor a Biblioteca de Prado – Comendador Sousa Lima, na Vila de Prado, que recebeu as celebrações concelhias do 45ª aniversário do ’25 de abril’. A iniciativa resultou de uma organização conjunta entre o Município e a Assembleia Municipal de Vila Verde, com o apoio da Junta de Freguesia da Vila de Prado e do Regimento de Cavalaria 6 (Braga).

As comemorações arrancaram pelas 09h00, em Vila Verde, com o hastear das bandeiras, a que se seguiu o desfile da fanfarra da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Verde. Perto das 10h00, a Biblioteca de Prado - Comendador Sousa Lima recebia um autêntico desfile de talento de coletividades e individualidades pradenses, que ajudaram a dar ainda mais brilho à sessão. A população e as individualidades convidadas foram recebidas pela Fanfarra da Vila de Prado e por uma largada de pombos ao que se seguiu um verdadeiro festival de folclore, taekwondo, teatro, música ligeira, fado… Uma demonstração clara que uma das vitórias de abril, o associativismo, está de boa saúde na Vila de Prado com a presença massiva das associações locais. A sessão prosseguiu com homenagens ao Clube Náutico de Prado, à Federação Portuguesa de Canoagem e ao mestre pasteleiro Miguel Lopes. Seguiram-se as intervenções do presidente da Junta de Freguesia da Vila de Prado, Albano Bastos, do presidente da Câmara Municipal de Vila Verde, António Vilela, do presidente da Assembleia Municipal de Vila Verde, Carlos Arantes, e dos representantes dos diferentes grupos partidários com assento na Assembleia Municipal de Vila Verde. Sérgio Sales, da CDU, Cláudia Pereira, do CDS/PP, Conceição Alves, do PS, e Carlos Correia, do PSD.

A importância do direito ao voto

O discurso de boas-vindas ficou a cargo de Albano Bastos, que vincou a honra de receber na Vila de Prado as celebrações concelhias “desta data tão especial e importante para as nossas vidas”. O presidente da Junta de Freguesia da Vila de Prado prosseguiu congratulando todos os que estiveram envolvidos na organização da sessão e aos intervenientes pelos excelentes espetáculos que proporcionaram, antes de lembrar uma grande conquista de abril. “O direito ao voto, o direito a eleger os representes que vão gerir os nossos destinos. No período democrático da nossa história, os governantes fizeram uma opção pela Europa. Uma opção lógica e natural, as vantagens de pertencermos a União Europeia são enormes. É certo que nem tudo é um mar de rosas no velho continente, mas é indiscutível que aqui ainda imperam os valores democráticos tão caros aos militares de abril”, referiu, acrescentando palavras de incentivo ao voto para todos os sufrágios eleitorais em geral e em particular nas eleições europeias que se avizinham. Para que usufruam plenamente de um direito que durante décadas foi retirado aos portugueses.

“A esperança renasceu em Portugal”

Por sua vez, o presidente do Município de Vila Verde deixou rasgados elogios ao talento pradense. “Permitam-me que dirija aqui algumas palavras iniciais de saudação e de agradecimento pela excelente receção que aqui tivemos na Vila de Prado. Prado mostrou-se aqui ao mais alto nível com as suas instituições e com as suas organizações. Mostrou que tem dinâmica cultural, desportiva e associativa que muito valoriza a sua terra e as suas gentes. Parabéns para todas estas instituições”, afirmou.

António Vilela continuou exaltando as conquistas da revolução dos Cravos. “O 25 de abril devolveu aos Portugueses direitos fundamentais que ficaram consagrados na Constituição de 1976 e a esperança renasceu em Portugal. A igualdade e a tolerância em relação a diferentes credos e/ou ideologias; a liberdade de reunião e de associação; a livre formação de partidos políticos e o direito ao voto foram e continuam a ser os grandes pilares do nosso edifício democrático. O direito a uma vida digna, consubstanciado no direito à saúde, à habitação, à educação, ao trabalho e à greve são também grandes conquistas estruturantes deste regime democrático que hoje completa a bonita idade de 45 anos”, afirmou, acrescentando que o poder autárquico foi outra das grandes conquistas de abril.

A força do poder local

O representante da CDU referiu que “a revolução de abril constitui uma realização histórica do povo português, um ato de emancipação social e nacional”. Sérgio Sales enalteceu os heróis de abril, condenou fortemente o Estado Novo e sublinhou o papel do PCP na revolução. Frisou ainda que, apesar dos avanços na reposição e conquista de direitos, há “problemas estruturais” que devem ser resolvidos. “O desenvolvimento das capacidades produtivas nacionais e o fortalecimento dos serviços públicos para garantir a resposta às necessidades dos trabalhadores e das populações”, afirmou, vincando a importância do poder local, uma das grandes conquistas de abril. “O poder local democrático afirmou-se, operando profundas transformações sociais e uma importante intervenção na melhoria da qualidade de vida das populações e na superação de enormes carências, substituindo e sobrepondo-se, em alguns casos, na resolução de problemas que excedem em larga medida as suas competências”, frisou.

A luta pela igualdade continua

Por sua vez, a deputada municipal do CDS-PP homenageou os sacrifícios dos que combateram o regime e prosseguiu frisando que a luta contra a desigualdade de género continua. “Ainda são visíveis na nossa sociedade grandes desigualdades entre os dois géneros. Em Portugal ainda existe uma grande precariedade laboral feminina que é substancialmente superior à masculina. Existem diferenças salariais em desfavor das mulheres. Ainda há fraca representação feminina nos postos de direção e até mesmo na política”, disse Cláudia Pereira, acrescentando que “temos que mudar este paradigma rumo à igualdade”. A deputada municipal frisou ainda que “o concelho enfrenta uma dura luta no combate à desertificação e o abandono das terras, bem como ao envelhecimento da população” e que a sociedade não pode ser condescendente com situações de violência.

O saldo é positivo, mas ainda “há gente que convive mal com a democracia”

Conceição Alves, representante do grupo do PS na Assembleia Municipal, sublinhou que a revolução devolveu “direitos elementares de cidadãos livres, até essa altura estavam vedados aos portugueses por um regime autoritário e retrógrado”. “Desde então, por entre erros e sobressaltos próprios de quem é jovem, nestes 45 anos de democracia, o nosso país tem conhecido um período de prosperidade, progresso e conquista de direitos”, apontando vários bons exemplos, como o Serviço Nacional de Saúde, o sistema de Segurança Social, a moderna rede rodoviária, as escolas e estabelecimentos de ensino, instalações desportivas… “Não está tudo feito, nem tudo o que se fez foi bem feito, mas o saldo é manifestamente positivo”, afirmou, reiterando a importância do trabalho desenvolvido pelo poder local, a quem se deve boa parte do progresso e desenvolvimento do país. No entanto, alertou para diferenças visíveis na gestão de diferentes autarquias. “Nestes 43 anos de poder local, enquanto uns deram prioridade ao tratamento das necessidades mais elementares, outros apostaram numa política diferente, uma política de encher o olho e o estômago”, afirmou, acrescentando que “em algumas autarquias há gente que convive mal com a democracia e tem alguma dificuldade em respeitar e aceitar a opinião dos outros”.

“Bem-vindos à vila dos sonhos”

 “Sejam bem-vindos à vila dos sonhos”, foi assim que o representante do grupo do PSD na Assembleia Municipal se dirigiu aos presentes, reforçando de seguida a importância dos ideais de abril e o valor de todos os homens e mulheres que resistiram e combateram a ditadura. Vincou ainda que depois da revolução o povo pôde voltar a conduzir os seus destinos e alertou para que as sociedades atuais não deem a liberdade como garantida. “Hoje, as autarquias são o baluarte da boa gestão pública, lideram o processo de transformação infraestrutural do país, sem comprometer o futuro das gerações vindouras”, afirmou também Carlos Correia, acrescentando que “não devemos olhar para as dificuldades como obstáculos intransponíveis, mas como barreiras a superar com determinação, com a arte e engenho que caracterizam a nossa história”.

“O ’25 de abril’ é um símbolo da nossa identidade”

Para concluir, o presidente da Assembleia Municipal de Vila Verde saudou as atuações preparadas pelos talentos pradenses e a receção calorosa por parte dos habitantes locais. Carlos Arantes prosseguiu sublinhando que “o ’25 de abril’ é um símbolo da nossa identidade”, que deve ser transmitido às gerações mais jovens. “Portugal evoluiu muito desde abril de 1974, em todos os indicadores sociais e económicos”, no entanto, os desafios continuam. “Temos que contribuir para a melhoria da qualidade da nossa democracia. É um ponto central neste momento que vivemos. Desenvolver o país é essencial para reforçar a confiança dos cidadãos na democracia e nas instituições do Estado de Direito Democrático”, vincou, sublinhando a pluralidade e profundidade da revolução. “O 25 de abril não são partidos de esquerda ou de direita, são pessoas vontades e quereres, somos todos nós no exercício diário da nossa cidadania. Não são velhos, não são novos, não são homens ou mulheres, são os valores que nos constroem primeiro como indivíduos e depois como sociedade”, disse Carlos Arantes.